Vinte
e três de Abril, Dia Mundial do Livro. A data foi escolhida pela UNESCO
para a efeméride porque assinala o falecimento de Miguel de Cervantes
(em 1616) e de William Shakespeare (também em 1616). Mais que homenagear
um escritor espanhol e um escritor inglês, a UNESCO na verdade exaltou
dois escritores cujas obras transcendem em muito os limites geográficos
nacionais.
O
livro guarda dentro de suas páginas um mistério: por que os livros,
mesmo quando publicados em modestas edições, alcançam um universo imenso
de leitores?
Se
compararmos o número de pessoas que se postam diante da televisão com o
número de leitores que se debruçam diante dos livros, o resultado é
obviamente desastroso para o veículo livro.
Não
obstante a disparidade entre o público televisivo e o público que
frequenta o livro, a influência dos textos produzidos pelo invento de
Gutenberg impressiona e espanta.
Não
foi sem razão que no decorrer da História os livros foram censurados,
apreendidos e queimados pelos déspotas políticos e religiosos.
Compreenderam os inimigos da liberdade, os guardiães da ordem
estabelecida que os livros, nas mãos do povo, colocavam sob suspeita a
verdade decretada.
Tive
uma experiência curiosíssima no que se refere ao alcance do livro.
Embora essa experiência obrigue-me a um relato pessoal, tenho
dificuldade de omitir o registro, uma vez que a menção do episódio
confirma as afirmações feitas acima.
Recebi
uma carta de Juazeiro do Norte, Estado do Ceará. A remetente, uma jovem
advogada, chama-se Salete Maria da Silva. Num texto de três páginas,
Salete Maria produziu uma análise profunda e sensível de nosso “ABC da Cidadania”. Fez
inclusive um justo reparo ao trabalho, apontando um cochilo em que
incorri. Na reedição da cartilha atendi a crítica e corrigi meu erro.
O curioso é como esse pequeno livro chegou às mãos da advogada. O fato é narrado por ela.
Um
amigo da advogada, residente em Juazeiro do Norte, veio a Vitória
visitar parentes. Quis conhecer a “Casa do Cidadão”. Naquele espaço do
povo, encontrou o “ABC da Cidadania”, livro que o Pastor Joaquim
Beato, então Secretário Municipal de Cidadania, com a sensibilidade do
poeta e a capacidade executiva do fazedor de coisas, teve a bondade de
me convidar para escrever. Na Casa do Cidadão, o livro é distribuído de
graça às pessoas que manifestem interesse pela respectiva leitura. O
amigo da Salete simpatizou com o jeito do livro e levou um exemplar para
a terra do Padre Cícero, no Cariri.
O
livro, esse objeto retangular inconfundível, tem muitas vezes esse tipo
de trajetória não convencional, surpreendente.
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor.
E-mail: jbherkenhoff@uol.com. br
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 2197242784380520
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